Hebe, a estrela do Brasil


Não faço isso há muito tempo, mas acredito que se faça necessário tamanha a riqueza do que vi depois de, praticamente, duas horas muito bem aproveitadas.

Assisti o filme "Hebe, a estrela do Brasil" e, apesar de ser um dos mais novos na sala (fato constatado assim que as luzes se acenderam na sala) e de não ter podido acompanhar a vida e a carreira dela desde o princípio, vi a própria Hebe através da Andreia Beltrão.

Que mulher, que monstro em atuação. Caracterização perfeita, figurinos, movimentos e até os pequenos tiques, como as piscadinhas "excessivas" da Hebe. E como dizia a própria apresentadora: "bárbaro. Uma gracinha.".

Fosse em uma cena de perfil ou até num corte um pouco mais rápido, eu vi muito mais a Hebe, aquela que via (e adorava) sempre na TV. A atuação da Andreia foi excepcional, uma atuação deslumbrante e digna de prêmio.

Quem assistiu a Hebe na TV, vai ter bons momentos pra recordar: roupas, jóias e penteados mais famosos são utilizados com perfeição pela equipe. Todos fizeram um trabalho incrível.

Mas enfim, não sou nenhum crítico de cinema, mas precisava falar sobre esse filme. Sai do cinema mexido, emocionado com toda história, mas com o coração confortado.

Revivi toda aquela alegria que ela transmitia, toda verdade que trazia em suas palavras. Filme excelente e que merece todos os prêmios. Perfeito.

E o tempo passa





Nossa, quanto tempo sem escrever nada por aqui... Os últimos post's foram só mais um copia e cola pra não deixar o blog parado, mas passou mais de um ano e nem isso mais eu fiz. Tava aqui lendo o último post (que eu mesmo escrevi) onde eu, mais uma vez, me abria pra pessoas estranhas (ou não) que por um mero acaso do destino talvez estivesse lendo meu blog naquele momento. Pra ser franco, até hoje não sei o porquê de ter começado a escrever aqui. Seria mais fácil escrever num diário ou procurar terapia. Mas enfim... Como prometia no post de dezembro 2011, o ano seguinte realmente foi o meu ano. Saí da toca, literalmente, e hoje sou figurinha fácil nas baladas da vida.

Os amigos finalmente conseguiram o que tentaram muito tempo: fazer do garoto que era do dia, virar o cara da noite. Ainda bem que não desistiram de mim. "As pessoas são loucas." Ok, levei alguns meses de 2012 pra deixar esse cara tomar a frente, mas agora que ele está aqui, acho que não vai mais embora.



Ir morar com minha avó e passar meses me lamentando por ter sido "trocado" me fez ver o quanto tempo estava desperdiçando e foi aí que tive o estalo que precisava pra mudar e tocar o barco. De lá pra cá as coisas continuam indo bem, mesmo depois de tudo que aconteceu consegui virar o jogo, ver o lado positivo da coisa toda e tirar proveito disso, como sempre procurei fazer.
"O corpo forma cicatriz para sarar a ferida... Com tempo suficiente você pode esquecer de onde elas vieram."
Problemas? Muitos. O tempo todo. Mas enquanto eu respirar, vou resolvendo e consertando os estragos, afinal não passei por um quase aborto a toa. Vim nesse mundo a passeio não. Vim pra deixar minha marca, mesmo que seja só na vida das pessoas que me rodeiam.

O motivo de estar escrevendo aqui hoje vai muito além de, simplesmente atualizar o blog. Claro, que queria manter ele atualizado, que ele sendo visto e comentado pelas pessoas, mas na real, só vim escrever aqui porque tô chateado com uma situação e escrever aqui sempre me ajudou a aliviar a tensão. Ver as coisas com mais clareza. Ler o que eu escrevo, depois de um tempo, me ajuda a fazer uma análise do que eu tô deixando passar, onde eu preciso acertar, me ajuda a me podar pra ter uma visão mais ampla da coisa toda e assim, me livrar do peso das emoções ruins.



O ano tá quase acabando de novo, e digo quase porque só faltam três meses e a gente sabe o quanto passa rápido. Postei essas fotos no decorrer do post pra mostrar a quem interessar que apesar de tudo que já aconteceu, estou bem e não planejo suicídio (rsrs). Talvez cometa uns assassinatos, mas isso fica para um próximo post (rsrs).

Quero agradecer aos amigos por não desistirem de mim, por me fazerem companhia nas horas em que eu precisei, por me oferecem um rim se por acaso eu precisar, enfim todo mundo que fez ou faz parte da minha vida. Fazendo o bem ou o mal, isso só acrescentou e me fez ser o que eu sou hoje: sarcástico, debochado, simpático, brincalhão e nem um pouco solar.

É isso. Não gostou? Foda-se. O blog é meu!!
Ass.: Rodrigo Santos


 
"Não é como era antes. É algo diferente. Mas por ora é o suficiente." 


Capital (by Contudo)




Senti muito frio no trilho
Não sorri ao saber que as correntes de ar me prendiam contra aquele canto
Mas adormeci no primeiro balanço
Do trem, tal qual uma centopeia
Ou dos trins, essas onomatopeias vulgares de toques de telefones

E toques na pele de pessoas em vagões lotados
Deles só há nas mentes vagas lembranças
Pois para os carros não há sequer uma vaga
E todos correm para sair do metrô
Guiados pelos odores do mercado ao lado

Me acordam os acordes das acordeonas
E fazem um loop redundante nos cabelos (ou na falta deles)
Daqueles tios simpáticos a tomar chimarrão na praça
E mesmo que eu não beba também sinto
O amargo, dos gritos

Empréstimos
Frenéticos
Para caquéticos
Ou falidos
Envergonhados

Esse bando de gente falante
De vozes, propostas e risadas irritantes logo cedo
Isso tudo não me desperta
Me acorda aquela menina que concorda
Rabiscando com o lápis num papel amassado
Um monte de versos que contei na capital
E nem sei, talvez seja só o frio

Por Lucas Schwantes
 

Impressões digitais


Não costumo me coçar para dizer aos outros o que devem fazer, mas vez que outra escapa um conselho. Aqui vai um, certamente dos mais estranhos e talvez dos mais valiosos:

Tem gente que precisa enfiar um USB no corpo, conectar numa impressora e dar um jeito de imprimir alguma coisa. Não precisa ser legível, nem ser bonito, mas tem que ser.
Lembra quando você fez um lindo desenho no Paint, foi imprimir e saiu um desastre em escala de cinza?

Lembra quando você bateu boca com 30 coleguinhas para escolher uma camiseta de turma na 8a série e no fim te entregaram um pano colorido demais, com o apelido mais esdrúxulo que você recebeu na vida – e escrito errado – nele?
Lembra daquela menina do outro colégio linda pelo Orkut, até o seu amigo, vizinho dela, contar que todas as fotos são enganação?

Pode parecer, mas não estou dizendo que o virtual engana, isso ou você já sabe ou está ganhando dezenas de iPads por semana ao ser o milionésimo visitante de todos os sites.
Estou dizendo que no monitor tudo é mais dinâmico, colorido, instantâneo, mas vai imprimir pra ver. Quando bate o físico – só o que é físico bate – sempre é diferente. Não é pior. Você toca, enjoa ou vicia no cheiro da tinta, suja as mãos e até corta os dedos nas folhas. Não é melhor. Não é tão prático, rápido e instantâneo quanto o digital.

Mas é.

Sou bom em pegar as batatas fritas dela e colocar junto com as minhas na tampa da caixa do Big Mac. Sou bom em fazer fogueira em beira de praia com vento. Eu costumava ser bom em escrever textos que eram publicados num blog, até que eu parei de publicar, fui deixando em algum lugar do computador, imprimindo menos, perdendo ou nem completando a maioria.

Não deixa faltar papel nem tinta para amanhã. Distribua novas e primeiras impressões logo pela manhã. Certifique-se de que você está impregnado em alguma saudade, em alguma falta de fome, em alguma esperança, em algo que alguém cantou. De cordas de aço a cenas de crime, existem lugares mais interessantes do que touchscreen para impressões digitais.


Por Dardo Oliveira em http://contudo.wordpress.com

Pelo direito de ser um homem torto


Por mais que pareça estranho – e às vezes parece até pra mim –, eu sempre defendi os desajustados. Quando via filmes ou desenhos, sempre tive facilidade em olhar as coisas sob a perspectiva dos vilões das histórias e me compadecia por eles. Por que será que o Esqueleto não tinha o direito de morar no Castelo de Grayskull (mesmo que enjaulasse a Feiticeira)? Qual problema haveria no Vingador manter os garotos na terra perdida da Caverna do Dragão ou o Capitão Gancho fazer a desforra com o Peter Pan?

O tempo passou e minha curiosidade infantil se transformou em interesse profissional. Me formei psicólogo e sempre tive vontade de trabalhar no sistema penitenciário. Tive experiências curtas, mas bem produtivas, nessa área, ao mesmo tempo que me fixei em um consultório.
O fato assustador é que as características com as quais nos espantamos nos bandidos mais famosos não estão muito distantes de nós. Digo mais: estão em nossas próprias mãos. Foi a necessidade de entender essa relação sombria que me levou a pesquisar a vida de grandes criminosos históricos como Adolf Hitler, Charles Manson e o Maníaco do Parque para escrever o livro “Por que fazemos o mal?“. Nada do que se observa na personalidade deles difere radicalmente de uma pessoa comum.

Você tem todo o necessário pra ser o Baltazar da novela, batendo na mulher

De alguma forma, qualquer um percebe, por intuição, esse tipo de conexão obscura em si mesmo quando me pergunta ao final do relato de primeira sessão: “sou normal, doutor?”
Sem admitir, sabemos que temos um monstro contido dentro de nós, pronto para atacar, submeter ou subverter a ordem vigente, ainda que seja para pisar na grama ou beliscar o irmão mais novo. No trânsito metropolitano, nos revelamos verdadeiros sociopatas. Na empresa, assediamos moralmente sob pretexto de gracinhas entre colegas de trabalho. Esquecemos o troco, atrasamos nos compromissos, falamos indevidamente com os amigos e submetemos nossas namoradas e esposas a situações humilhantes. O que há de generoso nisso tudo?
O álibi está pronto e sempre temos uma explicação brilhante na ponta da língua. Eu, você e o Fernandinho Beira-Mar, todos somos santos.
O que seria normal, afinal? Essa é uma palavra estranha no meu vocabulário, pois pode significar comum, saudável, razoável, digno, moral ou dentro do esperado. Mas qual seria o orgão regulador que carimba o atestado de sanidade ou normalidade para alguém?
As pessoas procuram um psicólogo como se ele fosse um auditor de suas vidas, alguém pra responder a clássica pergunta “onde foi que eu errei?”. Nesses casos, eu me recuso a dar um parecer, afinal, sou um defensor da vida torta – ou melhor, do direito existencial pela vida torta em cada pessoa.

Nada me surpreende e fascina tanto quanto uma vida dita degenerada, fracassada ou cheia de hospício. Naquilo que as pessoas chamam de desvirtuamento existe algo também de genuíno e honesto; às vezes mais do que numa vida morna e regrada. Grandes caras que conheci são efeitos colaterais ambulantes, pois são homens que andaram na contramão, mesmo que involuntariamente, e descobriram beleza em lugares inóspitos e totalmente áridos da existência humana.
Quando usamos métricas matemáticas no quesito humano, asfixiamos a nossa natureza porque reivindicamos direitos morais que são inalcançáveis. O erro me soa muito mais um ato comum que se tivesse o resultado esperado seria chamado acerto, mas que, como foi um tiro n’água, chamamos de erro após uma autópsia emocional tendenciosa. O amor “fracassado” foi tão válido como aquele que “perdurou”.

Dexter: luz e sombra em um mesmo rosto

Gostaria de compartilhar três casos em especial me marcaram no consultório pela linha totalmente fora da curva.

Pedófilo arrependido

Ele vinha de um processo de reinserção social após anos em regime prisional. Havia molestado sua enteada dos 7 aos 16 anos. Depois de sofrer as represálias conhecidas aos pedófilos na cadeia, aquele homem era uma sombra distante do vigor que possuía na juventude. Em seu relato ele dizia com a honestidade de um leão que segura o cervo entre os dentes: “eu a amava, de um jeito estranho, mas eu a amava!”
As sequelas visíveis da menina (depressão e magreza anoréxica) não eram um alerta para aquele homem que “amava” crianças com o coração de um menino. Seu senso estético era pouco evoluído e, apesar de não haver presença de algum retardo, ele guardava consigo a autoimagem de uma criança de 7 anos. Para ele, até ser preso, não havia “pecado” em “namorar” pela internet com uma menina de 8 anos.

Colecionador de sexo bizarro

Ele amava amarrilhos, algemas, punhos, chicotes e animais exóticos. Todos na sua cama super king. Para as pessoas de hábitos sexuais tradicionais (que se aventuram nos orifícios conhecidos) aquele homem soaria bizarro. Mas era tão curioso ouvir o carinho que existia entre ele e sua boneca inflável num ménage a trois com uma porquinha (literalmente) que vinha do interior de SP especialmente para o deleite daquele casal querido.
Se tirássemos as palavras “boneca inflável” e “porquinha” qualquer um conseguiria ouvir um homem relatando seu amor por duas irmãs gêmeas que o correspondiam em pé de igualdade. Excrementos eram usuais em suas transas e, sem o menor pudor, dizia que ingeria fezes como quem comia um brigadeiro de panela.

Assassino não-declarado

Aquele homem era considerado um perigoso “ex”-traficante. Foi para terapia sob intimação da esposa para tratar de seu estranho hábito de afastar quem ele pudesse do caminho dela. Nunca ficou claro o método que aquele espanhol utilizava para afastar as pessoas do convívio de sua amada. Mas ele era de uma fineza no trato de dar inveja. Cumprimentava a todos com extrema gentileza e classe e nunca deixava alguém sem ajuda. De sua boca homicida (nunca revelada) jamais se via uma deselegância ou estupidez. Seu carisma podia convercer qualquer um a permanecer num papo agradável por horas sem fim.

* * *

Com essas histórias, não estou querendo legitimar a prática de crimes, muito menos incentivar ou fazer vista grossa com histórias de abuso. Com consequências, claro, mas apenas retratar vidas possíveis, como a sua e a minha.
Quando um caso de violência doméstica surge nos jornais, ouço a opinião pública inflamada atrás do culpado, execrando cada atitude ao mesmo tempo que cria um perfil psicológico monstruoso do criminoso.
A questão é que não gosto de seguir o caminho comum de julgar, condenar, executar, empacotar a ideia num plástico bolha e mandar para bem longe de mim como se eu fosse a emanação da pureza humana. Nossos descaminhos também compõem aquilo que somos.

De Anakin bonzinho a Lord Vader, em um descaminho só

Existem qualidades impessoais por trás da fachada de perversidade que não podemos negar que possuímos. A mesma inveja que nos consome está presente na admiração irrestrita a um ídolo inspirador que tentamos alcançar de alguma forma. O territorialismo do marido que sufoca a mulher com ciúme também a protege de paqueradores inoportunos. A intensidade das brigas desastrosas está presente nos arroubos apaixonados do mesmo jovem casal de pombinhos. A esperteza disfarçada do estelionatário é semelhante àquela que nos encanta em Morgan Freeman. A presunção que angaria desafetos está embutida na autoconfiança que fecha um negócio milionário.
Justificados ou não, os atos perversos estão intimamente ligados ao bem e à paz que se almeja para um mundo melhor. De um jeito estranho, toleramos a crueldade ao nosso redor como parte da nossa engrenagem sócio-psico-biológica e que ainda alimenta a presença do que chamamos de “mal” entre nós. Como num zoológico psicológico, olhamos o perigoso animal que nos habita enjaulado do lado de fora, “seguro e distanciado” da nossa percepção. É de Clarice Lispector o pensamento que “é preciso acreditar no sangue como parte de nossa vida. A truculência. É amor também.”
Isso tudo me levou a pensar que He-Man ao usar seu truque sujo (com a espada mágica) de deixar de ser o fracote Adam contra o Esqueleto não o torna muito diferente daquela malévola pilha de ossos falante. Assim como você, eu e nossos inimigos prediletos.
Para concluir, provoco vocês com o psicanalista Anthony Storr quando diz:

“O fato sombrio é que somos a espécie mais cruel e implacável que jamais pisou sobre a Terra e que, embora possamos ficar horrorizados quando lemos, no jornal ou nos livros, histórias sobre atrocidades cometidas pelo homem contra o homem, sabemos, intimamente, que cada um de nós abriga dentro de si os mesmos impulsos selvagens que levam ao assassínio, à tortura e à guerra.”


por em www.papodehomem.com.br

Como fazer cookies com gotas de chocolate


Depois que as águas de março fecharam o verão – esse era o combinado, apesar desse calor infernal – a temperatura vai caindo até o ponto em que é socialmente aceitável andar de meias pela casa.
O clima mais frio é um convite para atividades mais aconchegantes, e nessa hora saber propiciar conforto dentro de casa é fundamental. Pensando nisso, resolvi compartilhar, passo a passo, o processo de assar cookies com gotas de chocolates. É extremamente fácil de fazer e causa uma grande impressão. Agora vai aprender a fazer cookies com gotas de chocolate. Lide com isso. Você vai precisar de:

- Farinha de trigo
- Açúcar cristal
- Açúcar mascavo
- Ovos
- Manteiga
- Essência de baunilha
- Sal
- Fermento
- Um tablete de chocolate meio amargo (180g)

O primeiro passo é picar a barra de chocolate em pedacinhos, que serão incorporados à massa depois. Se quiser, pode amolece-la antes no microondas, por não mais do que alguns segundos.


Depois, em uma tigela, misture duas xícaras de farinha de trigo, três quartos de xícara de açúcar cristal e outros três quartos de xícara de açúcar mascavo. A seguir, coloque duas colheres de chá (aquela menorzinha) de essência de baunilha, duas colheres de sopa (aquela normal) de manteiga, uma pitada de sal e três ovos. A parada deve estar com essa cara aqui:


Adicione uma colher de sopa de fermento e misture tudo, até a massa ficar com uma cor marrom uniforme. Depois, acrescente os pedaços de chocolate e misture mais um pouco. A massa estará pronta e pode ser conservada desse jeito por algum tempo. Assim você não precisará assar tudo de uma vez.
Feito isso, é hora de preparar a forma. Esfregue um pedaço de manteiga na forma até criar uma camada fina em toda a superfície dela, depois vá jogando um pouco de farinha de trigo e chacoalhando, dando tapinhas no lado da forma, para espalhar a a farinha por cima da manteiga. Essa fina camada de manteiga e farinha vai fazer com que os cookies não grudem na forma.
Com uma colher, retire pedaços da massa e coloque-a na forma, de forma que cada cookie não seja muito maior do que um relógio de pulso:



Pronto. Agora, aqueça o forno a 180º por vinte minutos e deixe os cookies lá por pelo menos outros vinte, ou até dourarem.


Post original postado por www.papodehomem.com.br

Free hugs (ou “por que abraçar gente desconhecida, exceto mendigos”)


— Leva uma Nossa Senhora, “dotô”. Por cinco reais, o “sinhô” fica com a imagem e uma cruzinha – diz a ambulante na escadaria da catedral, inclinando a cabeça e levantando a sobrancelha alva, em gestos suplicantes. De sua mão trincada pela idade saltam imagens de santos diversos; dependuram-se dos dedos calejados pequenos crucifixos. O dia na Praça da Sé se faz cedo e antes.

O dia nasce antes na Praça da Sé (Foto de Daniela Ortega)

Às 8h51 de um sábado frio, já havia vestígios de vida naquele lugar: vendedores, engraxates, corpos maltrapilhos, curiosos, turistas. Atrás da catedral, um corpo mutilado mendiga com a mão estendida, sem rogar palavra alguma. Na praça defronte à bela construção, por outro lado, as vozes são muitas. Os sotaques se confundem ali naquele lugar, símbolo do centro velho, reduto de nortistas e imigrantes latinoamericanos que buscam na cidade de pedra uma redenção do acre de sua terra natal, sem imaginar que o agreste pode ser aqui, em São Paulo. Enquanto um jovem venezuelano logra meia dúzia de passantes com uma bolinha vermelha que some de um copo para aparecer em outro, quatro homens jogam cartas por sobre o mármore do marco zero, monumento que indica todas as rodovias que partem de São Paulo. Entretidos no carteado, eles não percebem que, dali, podem seguir para qualquer lugar do Brasil, e se deixam estar perdidos no mundo. Eles não são os únicos ali.
Distribuídos entre os cento e setenta e dois passos que separam a estátua do Padre José de Anchieta da Catedral Metropolitana da Sé estão homens-placa, que empunham dizeres como “Compra-se ouro” e “Atestado de saúde”. Há doze deles espalhados no perímetro, e parecem todos iguais: estatura mediana, cabeça raspada, bigode parco. São todos mulatos, evidência de que o mercado de subempregos tem seus eleitos.

***

Passava das nove horas quando, em meio às placas de ouro e atestado médico, estrategicamente posicionados em frente ao posto móvel da Polícia Militar, surgem três cartazes brancos, de feitura artesanal. Em caneta esferográfica azul, trazem as inscrições “Free hugs” de um lado e “Abraços grátis” no verso. Letras de forma, todas em caixa alta. Sob um dos painéis de cartolina, Solange está paramentada do constante sorriso acolhedor e de esdrúxulos óculos amarelos. Busca chamar a atenção.
Acompanhada da irmã e do marido, Solange se mexe na praça como uma menina num parque. Buliçosa, ela gesticula, levanta os braços, saltita. Zanza de um lado a outro, sempre posando um riso convidativo. Seu 1,65 metro e sua disposição escondem seus 41 anos. É uma mulher feliz, apesar do contato diário com a pobreza da zona leste.
Solange é florista autônoma e sabe que nem tudo são flores nesta vida. Por isso veio cedo à Praça da Sé oferecer abraços à gente estranha. Olhos curiosos miram a mulher, como o do senhor com calças maiores que as pernas e camiseta laranja berrante que, arrastando o chinelo de dedo, vai e volta, para e observa, sem saber ainda o que todo aquele furdúncio significa. Solange atrai outros olhares – uns mais ébrios, como o do senhor de laranja; outros menos, como o de Cícero Júlio.
A camisa do Vasco dissimula a naturalidade alagoana de Cícero. Aos 42 anos, o ajudante de caminhoneiro corta os 20 quilômetros que separam a Praça da Sé de Diadema em busca de distração. Naquele dia, espantou-se ao ver Solange, o marido e a irmã com óculos coloridos e as cartolinas em riste. Cruza os braços pardos e leva a mão ao queixo de barba rala, sem saber ao certo o que fazem aqueles três sujeitos fantasiados a ofertar abraços. A curiosidade nos olhos diminutos é nítida e, por nove minutos, o homem pondera se se aproxima do trio ou se fica ali, parado na banca-barbearia de um colega. Acaba indo. Deixa-se abraçar. Justifica-se num cochicho a Solange:
“Eu te vi abraçando e me lembrei de minha esposa e dos meus filhos.”
Volta com um sorriso novo e redondo no rosto, e a cabeça nos filhos Adriano, André e Daiana, e na esposa Ednilza.
O transe é desfeito aos gritos. Alguns metros distante de Cícero, um bêbado, sem parar de andar um instante, berra à irmã de Solange.

— Você pensa que é salvadora da pátria? Salvadora é o caralho. Tá me tirando de trouxa? Hein, tá me tirando de trouxa? – diz um homem enquanto arregaça as mangas do moletom cinza para que seus gestos tenham mais espaço. Levanta uma mão aos céus e leva a outra à cabeça, como quem não crê na gratuidade do gesto de Solange. Continua a caminhar passos trôpegos, e os gritos vão fenecendo. Esvai-se o som por completo, enfim. Afastado do grupo, o homem ainda olha, pasmo.

Quem assiste a tudo gargalha do bêbado, assim como riem Solange e sua irmã. Apoiado o queixo no cabo imóvel da vassoura de piaçaba, um gari sussurra ao colega:
“Se fosse sexo grátis, eu tava ‘envorvido’.”
O companheiro acha graça e ri seus dentes falhados. Ficam sem abraço e sem sexo.
Nem todos acreditam que os abraços sejam, de fato, gratuitos. Foi assim, por exemplo, com o australiano Juan Mann, inspirador do movimento internacional “Free hugs”.

Juan Mann, o homem que idealizou o Free hugs.

Juan desembarcou em Sidnei no começo de julho de 2004. Voltava de Londres, “quando meu mundo estava de cabeça para baixo”. Ao chegar à capital australiana, terra natal, tinha apenas uma mala com roupas – ninguém o esperava no aeroporto. Enquanto outros passageiros encontravam rostos conhecidos e cumprimentos calorosos, Juan tinha como companhia apenas a vontade de sentir aquele calor humano: precisava de gente. Em posse de papel cartão e um marcador, escreveu “Free hugs” em ambos os lados e foi a uma das ruas mais movimentadas da cidade, a Pitt Street. Demorou quinze minutos para Juan ganhar o primeiro abraço.
O gesto do rapaz foi seguido por outros homens e mulheres, de diferentes crenças, mas com a certeza de que abraçar não poderia trazer o mal. Parecia consenso, exceto para a guarda civil, depois a polícia e, então, as autoridades locais, que impuseram barreiras – como um seguro estipulado em vinte e cinco milhões de dólares que deveria ser previamente pago para o caso de alguém sofrer danos com aquela ação. A intenção era banir o embrião do que hoje é um movimento internacional. Juan conseguiu 10 mil assinaturas em petição a favor do “Free hugs”, o que desarmou as autoridades.
Ainda hoje, há cisma de que o movimento não tem legitimidade e seja deletério. Esta sensação torna-se maior a cada novo abraço dado. Foram mais de cinquenta até o meio-dia, e em todos Solange esboça suspiros de dever cumprido.
Cumprido? Mendigos não foram abraçados. Bêbados, quase nunca.
O gesto de afeto direciona-se exclusivamente aos semelhantes: trabalhadores, transeuntes em situação financeira mais ou menos confortável, estudantes bem apanhados. Aquele cambaleante senhor de camiseta laranja de gola esgarçada, calça moletom furada e chinelo cerca Solange, anda de lá para cá, olha e torna a olhar. Destoa da paisagem com a cor de suas vestes. Solange o ignora, mas não pode evitá-lo. O senhor de laranja apenas observa o aglomerar de gente que se abraça e se alinha para a foto, desejoso de fazer parte daquela imagem. Por desleixo do fotógrafo, acaba saindo no retrato, porém afastado do grupo da qual não faz parte.
O sentimento de pertença é algo raro em São Paulo, a cidade da megalomania. Quem constrói essa riqueza são seus 11 milhões de habitantes espalhados pelos 1,5 mil quilômetros quadrados – mais de 7 mil por quilômetro quadrado. Tanto espaço e tanta gente para que, no final das contas, eu não saiba o nome do meu vizinho de andar, do meu colega de trabalho, do chapeiro que toda manhã faz meu misto-quente. A facilidade de locomoção e de comunicação da nossa época é a janela aberta para que fiquemos parados e calados sem culpa – viveríamos em coletividade, se quiséssemos. Mas não queremos.
A miríade de gente que circula na Praça da Sé contrasta com os homens, mulheres e crianças que conversam só. Sujeitos que falam ao nada, pensam alto, gesticulam, esbravejam, xingam. Dialogam sabe-se lá com quem. Quiçá consigo mesmos, fazendo as vezes de ambos os interlocutores, já que ninguém lhes dirige a palavra.

Mendigos não ganham abraços

A tecnologia amplia o hábito de falar sozinho. Um bêbado de olhos caídos, camisa maior que o mirrado corpo e calça branca, marrom de sujeira, bambeia até encontrar o telefone público. Reverbera sua embriaguez no bocal do aparelho. Em seu desvario etílico, gargalha de uma piada que não houve para, então, cessar o riso e terminar o “diálogo” com uma assertiva:
“São Paulo é feia.”
O homem é Seu Joaquim, dito contabilista. Veio de Rondônia para conhecer a megalópole, e não sabe quanto tempo fica. Também não sabe se volta. Nada sabe Seu Joaquim, que viajou mais de 3 mil quilômetros para, enfim, se perder em São Paulo. E não ganhar abraço de viva alma.
Também se sente sozinho o estudante Leandro. Aos 18 anos, o paulistano acaba de entrar na faculdade de Turismo. Faz trabalho em grupo na Praça da Sé naquela manhã e, apesar de “em grupo” significar mais de um, ele está sozinho naquela parte da praça, enquanto suas duas colegas papeiam com um grupo de rapazes ao largo. Prancheta nas mãos, Leandro sai em busca de saber a opinião dos transeuntes a respeito da Sé, da catedral, da praça, do ponto turístico, da vizinhança. Repete as perguntas sempre com um meio tom a menos na voz. A timidez se apresenta na voz baixa, nos olhos que buscam o chão durante o papo, nos gestos comedidos.
Quando se aproxima de Solange para mais bateria de perguntas, é surpreendido por um abraço. Deixa-se abraçar, e os dois tapinhas nas costas de Solange indicam que Leandro não é muito íntimo de demonstrações públicas de afeto. Principalmente entre desconhecidos. Quando as colegas se aproximam, ele ainda está ruborizado.

— Você foi lá pedir abraço?

— Ah, eu fui falar com a moça e ela me abraçou.

— E você deixou?

— Eu deixei, ué! Quem faz esse tipo de coisa não tem maldade no coração.

— Cê ia abraçar gente estranha se fosse lá perto da sua casa, na Zona Leste?

— Lá eu conheço todo mundo. Mas se não conhecesse, não abraçava, não. Tem muita maldade no mundo…

***

A simples presença do senhor de laranja começou a intrigar os abraçadores. Solange e os outros dois posicionaram-se em frente ao posto móvel da Polícia Militar justamente para evitar qualquer problema. Afinal, “a Praça da Sé é um lugar pouco seguro, com um pessoal esquisito”. O maltrapilho de camiseta berrante não chega a ser uma ameaça – mais um estorvo. Um estorvo com olhos rogativos. Sem ter como lidar com aquele mirrado corpo que circunda o trio, quase a implorar que lhe deem atenção, Solange se aproxima. De braços abertos, curva o tronco para não sentir o corpo alheio durante o contato. Abraça o senhor de roupa de cor excêntrica.

— Você é gente fina – retribui o homem, que em momento algum estende os braços a Solange. Visivelmente emocionado com o gesto da mulher, afirma que ela “é do coração”.

Enquanto afasta sua pequenina figura, permite que o olhar fique perdido em Solange. Apenas se dispersa quando o amigo de barba crespa e voz grossa, que todo o tempo estava na praça, berra “cadê o litro?”, impacientado com a demora do companheiro de gargalo, e os dois saem à caça de cachaça.
Já era mais de meio-dia quando Solange, o marido e a irmã abaixaram seus cartazes. Sem alarde, deixam a Praça da Sé. Agradecem aos soldados da Polícia Militar por estarem ali, mesmo que não tivesse sido necessário acioná-los.
As manhãs de sábado reservam à Praça da Sé uma média de 20 queixas ao posto móvel da Polícia Militar. A maioria dos casos reportados diz respeito a furto de aparelho celular. Naquela manhã, porém, não houve sequer um relato.

Desabafo sincero


Olha eu aqui de novo imitando os posts do Miguel Solano... Bom, vamos ao que interessa, nada se cria, tudo se copia, edita, modifica e pronto. Assina embaixo como se fosse seu. ;D
Quem mora no Rio, sabe que está um calor dos infernos aqui, se bem que acho que o inferno deve estar mais agradável, mas enfim, tá um calor insuportável e hoje a chuva resolveu cair.

Se é que podemos chamar aquele chuvisco chato de chuva, mas aqui é Brasil e o povo é louco. Fui para o terminal pegar o ônibus (É, sou quase o Hércules. Eu pego o ônibus.) como de costume. Já imaginava um certo trânsito, afinal choveu em Niterói, é um fato que o trânsito vai engarrafar...


O ônibus chegou, subi nele e sentei numa janela. Estava muito abafado, mas como chovia, vi pessoas que eu costumo chamar de malucas, fechando as janelas. A minha estava aberta e permaneceria aberta mesmo que Deus mandasse bolas de fogo do céu. Prefiro levar uma bolada de fogo a sentir calor com ela fechada.


Vento no rosto durante a viagem, algumas gotas (que não molham nem o meu anão escravo do Camboja)  começavam a cair dentro do busão por causa da minha janela. Foi quando uma mulher sentada atrás de mim disse:


"Você poderia fechar a janela? Está me molhando."


Estava com meus fones de ouvido. Não sou funkeiro e respeito as pessoas. Com fone de ouvido, minha música (Banda Felter, Tim Bendzko, Jay Vaquer, Olly Murs...) fica muito melhor... Essa frase roubei do ônibus que pego quando durmo na minha tia. ;D


Batidinha no ombro e um novo pedido.


"Pode fechar a janela? Está molhando a gente aqui atrás."


Olho pra ela bem firme e super simpático (Nasci assim.) e digo:


"Me desculpe a pergunta, mas pra onde você está indo?"


"Pra casa."


"E você está com guarda chuva?"


"Não."


"Então pra quê se preocupar com umas gotinhas de água se vai se molhar quando descer do ônibus? Tá muito calor pra fechar a janela. Desculpa aí."


Silêncio e eu penso: "Isso sim foi um tapa na cara da sociedade!"


Minha janela permaneceu aberta até a hora em que eu desci do ônibus e ninguém mais disse nada. Peço sempre a Deus que me ilumine pra ter paciência com essas pessoas que se trancam com uma merda de um chuvisco, mas minhas preces, infelizmente, não estão sendo atendidas... pow, Deus.


É isso. Quer melhor? Se joga na frente do trem pra virar notícia no Meia Hora. Sem mais.


Ass.: Rodrigo Santos

A primeira Copa


— Senhor?

— Pois não?

— Adão na linha três.

— Pode passar.

— Alô?

— Oi, Adão.

— Oi, Deus. Tudo bem?




— Tudo e você?

— Mais ou menos. Será que o Senhor pode me tirar uma dúvida?

— Posso tentar. Diga.

— Prensada é da defesa?

— Prensada o quê?

— Prensada é da defesa?

— Adão, do que você está falando?

— Nós estávamos jogando futebol aqui embaixo e a bola saiu pela linha de fundo. Tem uns macacos aqui estão falando que agora é tiro de meta, porque bola prensada é da defesa.

— Adão…

— Eu acho que é escanteio. O Senhor não acha?

— Eu não sei. Eu não vi o lance.

— Mas independente disso, esse negócio de prensada é da defesa não é bobagem?

— Não sei, Adão. Creio que sim.

— Arrá! Vou falar isso para os macacos!

— Certo.

— Aliás… O que o Senhor acha de elaborar umas regras oficiais?

— Como assim?

— Escrever umas regras de verdade, porque os jogos aqui no Paraíso estão sempre terminando em briga. O Senhor poderia colocar as regras em uma ou duas tábuas, sei lá… Algum lugar onde todos pudessem ver. Assim não teríamos mais problemas como esse.

— Não, Adão. Eu já pensei nesse negócio de escrever em tábuas, mas estou guardando para outra coisa.

— Certo. Não precisa ser tábua. Mas, mesmo assim, umas regras viriam bem a calhar. Por exemplo, sobre o goleiro e fazer cera.

— Cera? As abelhas estão jogando também?

— Não, não é cera de abelha. Por exemplo, ontem nós jogamos contra um time de bichos-preguiça. Fizemos uma bobagem na defesa e tomamos um gol no começo do jogo. Dois minutos depois, eles atrasaram a bola para o goleiro e ele demorou trinta minutos para repor a bola em jogo. Ficou lá, deitado, agarrado na bola, sem fazer nada.

— Bem, Adão…

— Isso sem falar nos felinos! Semana passada nós jogamos contra eles e perdemos de oito a zero. Quem fez os gols foi o guepardo, jogando aberto na ponta, mas ele estava impedido em todos os lances. Ele é muito rápido, então entrava sempre sozinho na área.

— Mas vocês certamente podem se entender aí embaixo com isso.

— No caso dos bichos-preguiça, sim. Mas com os felinos, ninguém teve coragem de reclamar com o guepardo. Então ficou por isso mesmo. Por isso que umas regras oficiais ajudariam bastante. Poderíamos até fazer um campeonato.

— Campeonato?

— Sim. Todas as espécies jogando entre si. O que o Senhor acha? Iria promover a integração entre os animais. Fora que daria cada jogão…

— Hum… Até que é uma boa ideia. Mas seriam jogos demais.

— Não se dividirmos os animais em grupos. Cada grupo tem quatro times. E o vencedor de cada grupo enfrenta o vencedor de outro grupo. Quem perder é eliminado. Até sobrarem somente dois, que fazem o jogo final! E o Paraíso inteiro iria assistir a este jogo!

— Gostei. Gostei mesmo. Boa ideia. Estou orgulhoso de você, Adão.

— Obrigado.

— Então vamos fazer assim. Eu vou escrever as regras e elaborar um campeonato. Mas, Adão, você precisa me prometer uma coisa.

— Diga.

— Você vai ganhar essa Copa. Você e os macacos.

— Bom, vamos tentar…

— Não, Adão. Eu preciso que o seu time ganhe. Porque você é criado à Minha imagem e semelhança. Seria feio para mim se você perdesse.

— Bem, Senhor, temos outros times fortes aqui. Por exemplo, os elefantes, que entram com seis na defesa e ficam chutando bola para a torcida. É impossível fazer gol ali. Isso sem falar no jogo aéreo das girafas, é sempre um perigo.

— Não Me importa, Adão. É importante que você e seu time ganhe.

— Como eu disse, Senhor, faremos o possível. Mas, o Senhor sabe que futebol é uma caixinha de surpresas.

— Como?

— Futebol é uma caixinha de surpresas.

— De onde você tirou esta frase?

— Não sei. Acabei de inventar, acho.

— Bom, deixa para lá. Tenho uma ideia. Tem um anjo aqui que adora futebol. Ele está sempre vendo vocês jogarem daqui de cima, dando palpites sobre posicionamento, essas coisas. Que tal se eu pedir para ele descer até aí e treinar vocês?

— Putz! Seria ótimo!

— Então falarei com ele.

— Certo!


Felipão dando carrinho: um dos últimos praticantes do futebol A.C.


— Bem, recapitulando. Eu preciso falar com o anjo, escrever as regras e elaborar o campeonato. Algo mais?

— Arrumar uma bola também seria legal.

— Bola? Vocês não têm bolas aí?

— Não. Nós jogamos com cocos. Uma bola iria melhorar bastante as coisas aqui.

— Certo. Vou ver o que consigo. Até logo, Adão.

— Tchau!

Assim, duas semanas depois, começou a Primeira Copa do Mundo. Ou, ao menos, do Paraíso, que na verdade era o mundo inteiro naquela época.

E o time dos primatas começou bem. O anjo-técnico havia montado o time com um macaco-aranha no gol, dois gorilas na defesa e um babuíno de volante. Na frente, Adão jogava adiantado e de costas para o gol, fazendo o trabalho de pivô para os chipanzés que avançavam do meio de campo.

No primeiro jogo, ganharam por três a um de um combinado de antas e tamanduás. No segundo jogo, empataram sem gols com o time dos hipopótamos. A fase dos grupos foi fechada com uma goleada de sete a zero em cima de um time composto por focas e ariranhas, que estranharam o gramado seco e não conseguiram se entender em campo.
Campeões do grupo, os primatas foram para as oitavas de final como grandes favoritos. Especialmente porque o adversário (um combinação de lhamas e carneiros) não impunha muito respeito.

Mas a tragédia foi total: mal posicionado, o time dos primatas não fazia a bola chegar ao ataque. E tudo piorou quando o anjo-técnico tirou Adão do time e colocou um mico-leão de centroavante. Perdido entre as lhamas, o pequeno animal nada conseguiu fazer. Perderam de um a zero. Eliminação precoce.

No dia seguinte, começaram os rumores. Descobriu-se que o técnico era amigo do agente do mico, e o colocara em campo apenas para que ele tivesse visibilidade e fosse vendido para outro time. Todos passaram a suspeitar de que o treinador tinha interesses financeiros na transação e o clima ficou pesado.

Sem alternativas, Deus chamou o anjo para uma conversa.

Pouco menos de uma hora depois, o treinador foi demitido do cargo e, de quebra, também perdera o posto de anjo.

E assim Lúcifer se tornou o primeiro técnico caído da história.


Texto: Rob Gordon em PapoDeHomem.com.br